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A fantástica Ilha das Cores

Antes que você ache que é uma ficção, afirmo que não é. Por séculos, esta ilha ficou isolada por causa de uma lenda associada a um fenômeno geológico: a cor do mar próximo à praia é vermelha. Na Antiguidade Clássica, atribuíam a cor da água a um monstro que habitava a ilha e sacrificava humanos desavisados.

Esta história começa em Harvard. Quando visitei a Pigment Collection Colors, conheci um dos maiores acervos de pigmentos do planeta. Todos organizados em vidros e identificados. Comecei a perceber a vivacidade cromática de certos pigmentos. Eram provenientes do Irã e Afeganistão. Separei alguns frascos (lacrados por segurança) e a etiqueta marcava “By Hormuz”. Fui pesquisar de onde realmente eram extraídos. Trata-se de uma ilha do Golfo Pérsico. Os gregos a chamavam de Organa. No início do século XVI, a Pérsia perde o domínio e torna-se território português com o nome de Hormuz. Mais tarde, numa aliança entre ingleses e persas, torna-se território do potentado indiano e depois retorna integralmente ao Irã. O porto da antiga cidade continental é ampliado e a ilha entrou em colapso motivado pelo desvio das rotas marítimas.

Hoje, é considerado um “destino turístico de experiência”. A ilha das cores, além de suas múltiplas paisagens, apresenta uma vila com arquitetura desafiadora. Foi projetada pela ZAV Architects. As tintas aplicadas nos domus são feitas com os pigmentos locais: amarelo, azul, verde e o famoso vermelho rubi gelack, o mesmo que torna o mar vermelho. Nader Khalili (1936-2008), premiado arquiteto iraniano, consultor da NASA, inspirou o uso da técnica construtiva: adobe de alta resistência e estruturas metálicas. 

A harmonia entre as montanhas e a vila é singular. As formas remetem às raízes vernaculares e ao mesmo tempo projetam para uma dimensão futura. O tratamento cromático articula planos e volumes. O que dizer… seria este um futuro possível para aquele contexto? 

Fotos: ZAV| Shutterstock| Hormuz Of| Harvard Univ