Quando estava no doutorado da USP, consegui um estágio sanduiche para San Francisco, Califórnia. Esta modalidade permite que você realize pesquisas numa instituição de referência na sua área, com ou sem bolsa de estudos. No meu caso, foi sem bolsa mesmo, pois tinha empresa.
A pesquisa apontava que uma das empresas pioneiras na padronização de tintas ainda tinha registros de arquitetura cromática do século XIX e cuidadosamente preservados. Ficava na região de Montecino, Califórnia. Depois de horas dirigindo, cheguei ao local, fotografei, fiz os registros necessários e escolhi um pequeno restaurante para almoçar. Ainda teria o caminho de volta para San Francisco. O garçom perguntou se eu estava a caminho de Glass Beach. Glass Beach? Nunca tinha ouvido falar… “A praia tem pedras oceânicas coloridas! As pessoas que param aqui, sempre estão a caminho de Glass Beach”, disse ele.
Em 20 minutos, estaria lá. No caminho pensava: como era possível “pedras de vidro oceânicas”? É impossível, exceto se raios caíssem sobre a areia produzissem vidro e o mar levasse as massas. Naquela região, com mar calmo, o peso não permitiria o arraste…e as cores? Enfim, ficava no etéreo mundo das suposições criativas, mas nenhuma chegava às respostas.
Quando cheguei, soube da verdadeira história. Aquela região era utilizada para descarte de lixo de Fort Bragg, uma localidade que teve muita importância na época da exploração de madeira. Após as florestas destruídas, entrou em colapso. Por incrível que possa parecer, até 1960, ainda era zona de descarte só que de garrafas, metal e carcaças de automóveis. Em 1967, foi tombada como extensão do patrimônio de Montecino. O descarte ficou proibido e começaram a surgir as primeiras “pedras redondas oceânicas” que nada mais eram pedaços de frascos coloridos que ficaram rolando no mar e areia por décadas e resultaram neste lindo espetáculo.
Existe uma tabuleta recomendando não retirar as pedras…. mas o que se via era exatamente o contrário. Eu não peguei.
Hoje, Glass Beach perdeu muito do seu encanto e a profusão de cores não é a mesma. Fotógrafos compartilham a linguagem artística e montagens nestas lindas cenas.
